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Do Concreto ao Sensorial: Memorial da Justiça recebe novo grupo de pessoas cegas

Visitante cega toca maquete do prédio do Memorial da Justiça

Ignez Rabello do Rego Barros e Gabriela Severien no Memorial da Justiça

O Memorial da Justiça recebeu um grupo de 19 visitantes, entre pessoas cegas e acompanhantes, dentro da programação do projeto Do Concreto ao Sensorial, em 10 de novembro. O projeto, financiado pelo Funcultura e lançado no último mês de setembro, tem a proposta de tornar o patrimônio cultural arquitetônico do centro de memória do TJPE acessível a pessoas com deficiência por meio de maquetes táteis.
 
A visita foi organizada pela empresa Tangram Cultural, parceira do Memorial no projeto. A servidora Judite Muniz da Fonseca, da Vara de Execução Penal da Capital, também integrou a equipe que preparou a visita. Os visitantes eram pessoas ligadas ao Instituto de Cegos Antônio Pessoa de Queiroz, à Associação Pernambucana de Cegos (Apec) e à Associação Beneficente dos Cegos do Recife (Assobecer).
 
Divididas em grupos, as pessoas cegas conheceram as três maquetes táteis, que trazem indicações em braile – uma com a planta baixa do térreo, uma maquete do prédio sem telhado e uma maquete completa com telhados removíveis. Enquanto os visitantes exploravam as peças com as mãos, os integrantes da equipe de mediação do Memorial falavam da história do prédio, uma antiga estação ferroviária no Brum, e explicavam o seu funcionamento atual.  
 
Uma vez situados em relação ao edifício em que se encontravam, os visitantes foram apresentados à exposição de longa duração “Uma Questão de Justiça”, que, a partir de processos judiciais históricos do acervo do Memorial, trata de escravidão, capoeira e cangaço.
 
Entre os visitantes, estava Ignez Rabello do Rego Barros, de 90 anos, que começou a perder a visão há sete anos e hoje estuda braile no Instituto de Cegos Antônio Pessoa de Queiroz. De volta ao prédio que frequentou quando era estação ferroviária, Dona Ignez, que foi professora universitária, estava empolgada com a mediação de Gabriela Severien, responsável pelo setor educativo do Memorial. “Eu gostei muito. Ela explicou muito bem, com muita segurança. Admirei a capacidade de explicação dela. Só não foi melhor porque eu não vejo, só estava vendo com as mãos.”
 
Ubiratan Passos, que trabalhava como vigilante e se aposentou ao perder a visão, soube da visita pela Assobecer. Ficou muito interessado nas explicações relativas à exposição “Uma Questão de Justiça”, principalmente em relação às chamadas ações de liberdade. “Gostei de saber sobre os escravos que entravam com pedido de carta de alforria na Justiça. Afinal de contas, sou afro-descendente.”
 
Flávio de Souza, que às vezes faz trabalho voluntário para o Instituto de Cegos, soube do passeio por uma amiga. Ele lembra que, antes de perder a visão, conheceu a fachada do prédio, à época desativado. “Foi muito proveitoso”, avaliou. “As maquetes dão a nós, que não enxergamos, a oportunidade de conhecer a estrutura do ambiente. E valeu a pena também pela parte histórica.”
 
O Memorial da Justiça fica na Avenida Alfredo Lisboa, s/n, no Brum, e está aberto para visitação de segunda a sexta-feira, das 13h às 18h. Informações através do telefone (81) 31819445.
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Texto: Anna Santoro | Memorial TJPE
Foto: Caroline Lira | Memorial TJPE