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Dia Nacional da Adoção: TJPE celebra a chegada de um novo integrante à família do adolescente Paulo Roberto e seu pai, Samuel Lyra

Imagem mostra o pai, ao centro, com um filho de cada lado. O rapaz da direita usa camiseta vermelha e o da esquerda aparece com um boné virado para trás

Davi Gabriel, o pai Samuel Lyra e o filho mais velho, Paulo Roberto 
 
Em 2017 contamos a história de adoção do jovem Paulo Roberto, com 17 anos na época, e seu pai Samuel Lyra, residente no município de Camaçari, na Bahia. Este ano, para celebrar o Dia Nacional da Adoção, comemorado em 25 de maio, resolvemos conversar com pai e filho para saber como vivem atualmente e quais são os planos para o futuro. Para a nossa surpresa, a família aumentou com a chegada de Davi Gabriel, um jovem que cresceu junto com Paulo Roberto na instituição de acolhimento de Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata pernambucana, e também foi adotado por Samuel Lyra quando estava prestes a completar 18 anos.
 
O pai conta que conheceu Davi em 2017, quando foi passar um tempo de convivência com Paulo, em Vitória de Santo Antão. Durante um período de férias, em janeiro de 2019, entrou com requerimento para que o rapaz passasse uns dias em sua casa, na Bahia. Samuel lembra que na época Davi estava prestes a fazer 18 anos e já havia uma preocupação com sua situação depois que atingisse a maioridade “No mês de julho ele faria 18 anos, e aí teria que deixar a instituição ou ir para uma casa de passagem por um ano”, recorda.
 
Samuel lembra que nesse período uma família de Santa Catarina iniciou o contato com Davi para uma possível adoção, mas acabou não dando certo. E a maior preocupação tanto do jovem, quanto da instituição, era com a chegada da maioridade de Davi. “Me prontifiquei para acolhê-lo até ele se ajeitar. Aí a juíza da Vara da Infância e Juventude solicitou que eu enviasse uma carta manifestando esse desejo. A partir daí, com todo o acompanhamento dos profissionais da Vara da Infância, decidi adotar Davi ”.
 
O rapaz chegou à família no dia 18 de julho de 2019 e atingiu a maioridade dez dias depois, em 28 de julho. Após a conclusão do estágio de convivência, a sentença de adoção foi prolatada em março de 2020.
 
Os desafios são muitos e Samuel conta que o amor é a ferramenta capaz de fortalecer a relação familiar. “São quase cinco anos de convivência. Estamos ainda na fase de compreendermos um ao outro. Somos muito diferentes. Paulo tem 22 anos e creio que a maturidade às vezes é de 16. Digo para ele que, mesmo na raiva e nos nossos desentendimentos, ele é meu filho e eu o amo. Quando fico com raiva e o chamo de Paulo, imediatamente ele diz: ‘Paulo não! É meu filho’”, revela.
 
A chegada da vida adulta também traz dificuldades para Paulo Roberto, que terminou o Ensino Médio ano passado e busca apoio na família para encontrar o seu caminho. “Para mim é a melhor vida do mundo, mas atualmente eu não estou indo muito bem, deve ser a fase da vida... É como se você estivesse 15 anos no corpo de 22. Incrível né? Mas é assim quando você vive 17 anos da sua vida longe de uma família, pois ela é a sua fortaleza e, apesar de tudo, ela sempre estará perto para te ajudar. Agora imagina uma criança que viveu 17 anos numa casa de acolhimento, crescendo sem seus familiares? Pensou?”, reflete o rapaz. 
 
Para Davi, hoje com 20 anos de idade, a vida mudou desde que chegou a Camaçari. Ele conta que quando teve uma conversa com a equipe da Vara da Infância sobre iniciar o período de convivência e depois ser adotado por Samuel, viu a oportunidade de ter uma vida melhor. “No momento que conheci meu pai pela primeira vez, estava nervoso, calado e muito tímido. Depois de quase dois anos morando na Bahia, eu descobri que aqui é minha casa. Comecei a interagir com as pessoas, conversar mais”. Ele diz que seus planos para o futuro são terminar o Ensino Médio ainda este ano e arrumar um emprego. 
 
Em meio ao trabalho como gestor de projetos, Samuel tenta administrar a rotina da família e a diferença de personalidades dos filhos. “Tanto com Paulo quanto com Davi, para mim e para eles, o primeiro ano foi um grande desafio e os 4 primeiros meses foram difíceis. Passado esse tempo, são adolescentes com todas as dificuldades de um adolescente com um pai rígido e exigente. Como Paulo diria: ‘um pai fiscal’”. 
 
Samuel define Paulo como quem “tem rodeiras nos pés” por gostar de estar na rua, mas muito afetivo e amoroso. “Mesmo morrendo de raiva, batendo portas... ele sabe que eu sou seu pai e me respeita”. Já Davi, o pai descreve como o oposto do irmão. “Não gosta de sair, exceto para jogar bola. Sai comigo às vezes para ir andar na praia. Diria que igual ao irmão não gosta muito de estudar, mas faz as tarefas de casa e não mata aulas. Ele é quem mais me ajuda com a limpeza da casa. Também carinhoso do jeito dele e obediente. Não é de tocar, abraçar... igual ao irmão”, conta.
 
Ele afirma que nunca desejou ser pai biológico e sempre teve a clareza que queria adotar um adolescente, menino e negro. “Curto e amo meus filhos na imensidão dos grãos de areia das praias da Bahia, mas de vez em quando quero pegá-los pelo pescoço. Tenho crises de insônia imaginando o que o futuro reserva para eles. Também tenho saudades do tempo que vivia sozinho. Caio, levanto e a vida segue em frente. Imagino que eles passem por tudo isso também. Filho é filho e a paternidade se constitui pelos laços afetivos”, declara.
 
Apoio interdisciplinar – A assistente social e coordenadora do Núcleo de Apoio Especializado de Vitória de Santo Antão, Mônica Oliveira, acompanhou todo o processo de adoção dos rapazes, além de ter prestado todo apoio na fase de adaptação e convivência inicial da família, nas duas ocasiões. 
 
Ela conta que a adoção de Paulo Roberto foi feita por meio do antigo Cadastro Nacional de Adoção, hoje modificado para o Sistema Nacional de Adoção (SNA) e na época era ainda mais difícil de acontecer a vinculação de um adolescente com pretendentes por causa da idade. “Nós fizemos essa vinculação há quase cinco anos e esse tipo de adoção era raríssimo de acontecer. Fazia apenas um dia que Samuel, pela Comarca de Camaçari, na Bahia, tinha sido inserido no Cadastro como pretendente. No dia seguinte nós, em busca de pretendentes para Paulo, já pensando que não iríamos mais conseguir devido à idade, encontramos Samuel. E foi realmente um grande achado”, lembra.
 
Além do acompanhamento do estágio de convivência, realizado por profissionais da comarca de Camaçari, na Bahia, também foi prestado à distância todo o apoio psicológico e social pela equipe interdisciplinar da Vara da Infância de Vitória de Santo Antão. “Samuel sempre se mostrou uma pessoa muito preparada, sempre convicto de qual era o papel dele enquanto adulto da relação. Então ele sempre esteve muito pronto para todos os desafios. Até os 17 anos Paulo viveu institucionalizado, é de se esperar que essa pessoa tenha algumas dificuldades no começo da convivência com uma família”, afirma.
 
Para a juíza Sheila Cristina Torres, titular da Vara Regional da Infância e Juventude de Vitória de Santo Antão, histórias como a de Paulo Roberto e Davi renovam a esperança de que é possível encontrar um lar também para adolescentes com idade mais avançada. “Quando comecei a trabalhar com adoção na Vara da Infância de Vitória, imaginava a dificuldade em se concluir com sucesso uma adoção com adolescentes assim, em idade já mais avançada. Porém, esses casos mostraram que sim, é possível superar os desafios iniciais e encontrar uma família amorosa para os adolescentes”, ressalta a magistrada.
 
Mônica Oliveira conclui destacando a importância do empenho de todos os profissionais para o sucesso de adoções fora da faixa etária que comumente é escolhida pelas pessoas que querem adotar. “Foi uma doação emblemática para nós e de lá para cá nós caminhamos com outras adoções de adolescentes. Na comarca de Vitória temos muito sucesso com as nossas adoções nessa faixa etária e sempre procuramos seguir com máximo acompanhamento”, finaliza.
 
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Texto: Amanda Machado | Ascom TJPE
Foto: Cortesia