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As circunstâncias da vida podem mudar a qualquer momento, mas os desejos mais profundos e verdadeiros permanecem dentro do coração. E o sonho da cabeleireira e empresária Natália Barros, de 38 anos, sempre foi ser mãe. Desde a adolescência ela pensava em ter filhos e a adoção já fazia parte dos seus planos de maternidade. Quando casou pela primeira vez, Natália descobriu a impossibilidade de engravidar após fazer tratamentos sem sucesso. A partir daí, precisou convencer o marido a ingressar junto com ela no Sistema Nacional de Adoção (SNA), já que ele não tinha a mesma vontade. Inicialmente, a ideia era adotar duas crianças, de até três anos de idade, sem preferência por meninas ou meninos.
Com a finalização das etapas de cadastramento e conclusão do curso de pretendentes à adoção, o casal tornou-se habilitado no Sistema no ano de 2018. Foi quando, passados três anos, o casamento chegou ao fim e Natália precisou decidir sobre permanecer ou não no SNA, desta vez para realizar o sonho de ser mãe de forma individual.
“Eu tinha uma decisão muito importante a tomar, que era desistir do cadastro ou continuar sozinha. Mas eu tive uma conversa com Deus, sabe? Eu dizia assim para Deus que eu tinha um desejo muito grande de ser mãe. E que se não fosse a vontade Dele, que tirasse do meu coração. Mas o desejo só aumentava, era uma coisa minha”, conta Natália.
“Ele me levou a entender que o sonho só depende da gente, a realização não depende do outro. Então Deus chegou até a me questionar assim: quantas mulheres, Natália, você conhece que são mães solteiras? Eu conheço muitas. São mulheres que dão conta da sua própria vida. E eu sempre fui muito independente, saí de casa aos 18 anos para morar sozinha, sempre dei conta da minha vida. Então não seria diferente com o meu filho”, afirma a cabeleireira.
Com a decisão tomada, Natália procurou a Vara da Infância de Jaboatão dos Guararapes, onde tramitava seu processo, para retirar o nome de seu ex-marido do cadastro no SNA e fazer as modificações necessárias. Ela passou por uma reavaliação psicossocial e permaneceu na fila de adoção, desta vez sozinha. Como a sua realidade mudou, achou melhor optar por adotar apenas uma criança.
A vida seguiu e Natália encontrou no mecânico Sérgio Leonam, de 34 anos, alguém com quem partilhar seu maior sonho. “Quando o conheci já passei toda a realidade para ele. Falei que tinha um projeto de vida e que iria ter um filho. A minha filha iria chegar, já estava estabelecido que eu queria uma menina. Eu tinha meus projetos de vida e se ele quisesse começar um relacionamento sério comigo, ele ia ter que se encaixar nesses projetos, porque eu nunca mais iria mudar nada por ninguém. E ele aceitou, disse que sempre foi o sonho dele ser pai, independente se fosse biológico ou não. E assim a gente começou um relacionamento sério e posteriormente fomos morar juntos”, lembra Natália.
Em agosto de 2022, a equipe da Vara da Infância de Jaboatão entrou em contato com Natália para saber de seu interesse em adotar uma menina que estava passando pelo processo de destituição do poder familiar e tinha o perfil que ela havia escolhido. “No mesmo instante, eu e meu atual marido fomos até o fórum, acho que uns 20 minutos depois eu já estava lá. Conhecemos primeiro a história dela. E eu não estava conseguindo nem ouvir direito, só tinha o desejo de ver a minha filha. Quando eu vi a foto, eu desmoronei, chorei como uma criança”.
Natália lembra quando viu a menina pela primeira vez na instituição de acolhimento. “A gente foi até onde ela estava e eu a conheci pessoalmente. A coisa mais preciosa da minha vida. E eu não fui para conhecer, para decidir se eu queria não, eu já fui conhecer a minha filha, porque chegou a minha vez. A nossa vez, o nosso encontro. Eu fui com essa certeza, não tive dúvida nenhuma. Foi maravilhoso, foi o dia mais especial da minha vida”, conta emocionada.
Logo eles iniciaram o período de convivência com a filha e o processo transcorreu de forma célere até sair a sentença definitiva de adoção da menina, que agora se chama Manuela. “A adaptação da gente foi bem tranquila, parecia que ela já fazia parte da nossa família há muito tempo. Todo mundo queria cuidar, todo mundo queria ficar junto. Era inacreditável que eu estivesse com a minha filha tão linda nos meus braços. A gente foi para a audiência com a juíza e finalizamos o processo em pouco tempo”. A disponibilização da criança no SNA foi realizada no dia 18 de agosto de 2022 e a conclusão do processo de adoção ocorreu em 20 de setembro do mesmo ano.
A sentença de adoção foi proferida apenas no nome de Natália, que já havia passado por todas as etapas necessárias para a habilitação no SNA. Agora, os planos do casal são para que Sérgio realize a adoção unilateral, que é a modalidade prevista pelo Art. 41 do Estatuto da Criança e do Adolescente, em que um dos cônjuges ou conviventes adota o filho do outro.
Para a juíza Christiana Caribé, titular da Vara da Infância de Jaboatão dos Guararapes, um dos fatores que mais contribuem com a celeridade nos processos de adoção é a frequente atualização do Sistema Nacional de Adoção, tanto com os dados das pessoas que pretendem adotar, quanto das crianças que estão aguardando por uma família. “A desatualização dos dados dos pretendentes dificulta o trabalho das varas da infância e juventude e causa retardo à inserção da criança/adolescente em uma nova família. Quando as informações dos pretendentes estão atualizadas, tanto no tocante aos dados para contato quanto ao perfil pretendido para adoção, o início da aproximação entre adotandos e adotantes será mais ágil e o processo de adoção será mais célere”.
A magistrada relata ser muito comum os pretendentes não manterem atualizados no SNA o endereço, números de contato telefônico ou correio eletrônico e até mesmo informações sobre eventual divórcio, desemprego ou até o desejo de suspender o cadastro por outras questões pessoais. “Essas desatualizações no cadastrado fazem com que as varas da infância precisem entrar em contato com vários pretendentes até que se estabeleça contato com o pretendente que esteja com os dados atualizados e mantenha o desejo de adotar a criança disponibilizada. Também é importante reportar à vara da infância eventual desejo de mudança no perfil do adotando, valendo lembrar que recusas injustificadas para adoção das crianças/adolescentes dentro do perfil especificado poderão resultar em reavaliação dos pretendentes e até a exclusão destes do SNA”, explica Christiana Caribé.
Natália finaliza mencionando que a família passou com serenidade pelas primeiras etapas e convive no dia a dia com as mesmas alegrias e desafios de um lar formado por meios biológicos. “A sensação que eu tenho é que ela saiu de dentro de mim. A gente é muito apegada, ela é muito linda, muito esperta e muito cativante. É meu sonho sendo realizado, de forma palpável. Ela é isso para mim e para Sérgio, meu marido. Ele é muito apaixonado por ela. Ele queria muito ser pai e não poderia ser outra pessoa. Eu digo assim: Manu, ia ser só nós duas, mas Deus resolveu trazer um pai, uma família completa para nós”, comemora a mãe.
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Texto: Amanda Machado | Ascom TJPE
Fotos: Cortesia