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Irmãos adotados por família italiana reencontram amigos em Bezerros, Interior de Pernambuco

Os garotos e a mãe conversam com as pessoas que cuidaram deles na instituição

Os garotos e a mãe conversam com as pessoas que cuidaram deles na instituição

Uma grande família italiana. Foi o que cinco irmãos pernambucanos formaram, há 10 anos, quando foram adotados por três casais do país europeu. Apesar de não permanecerem no mesmo núcleo familiar, os garotos mantêm os laços de afeto até hoje, graças ao comprometimento dos adotantes em não desfazer o vínculo entre eles. Na quinta-feira (16/1), os mais novos do grupo, Lucas (13 anos) e João (15 anos) retornaram ao Brasil junto com a mãe, Elisa Sidari, para um reencontro com amigos e cuidadores da casa de acolhimento onde permaneceram por dois anos, no município de Bezerros, Agreste do estado. Confira as fotos da visita: https://photos.app.goo.gl/kfmcKfX84qGYWTEb6 

O retorno dos meninos foi cercado de emoção e muitas lembranças. Os irmãos foram recebidos com alegria pelas outras crianças e pelas pessoas que cuidaram deles naquele período. João, que saiu do local com 4 anos e meio de idade, ainda tem recordações da época. Ele fala sobre a importância da viagem ao país de origem e conta que lembra muito das pessoas com quem conviveu. “O Brasil hoje é a nossa segunda casa, mas foi aqui onde a nossa história começou. Esta é uma oportunidade de agradecer às pessoas por tudo que fizeram por nós”, declara. O rapaz conta que considera todos na Itália como uma grande família, incluindo os irmãos e os outros integrantes das famílias deles. “Gosto de ver TV com meus irmãos, passear e aproveitar as tardes juntos. Aproveitamos sempre para jogar futebol e comer alguma coisa”, revela.  

Lucas, que ainda era bem pequeno quando deixou o Brasil, acredita que a ida dos irmãos para a Itália ajudou no processo de adaptação de todos e contribuiu para a superação de dificuldades como a língua, a cultura e os costumes, por exemplo. “Mesmo vivendo em casas diferentes, a gente mantém contato sempre por telefone e se encontra uma vez por mês. É muito importante manter esse convívio”, afirma o jovem.

Sobre a vinda ao Brasil após uma década, a empresária Elisa Sidari, mãe dos garotos, conta que eles sempre querem saber coisas sobre o país de origem e que a viagem foi um pedido dos filhos. “Faz 10 anos que estamos vivendo em família e os meninos sempre perguntam sobre o lugar onde nasceram. Essa viagem é importante para manter o vínculo com o Brasil”, explica. Ela conta que vão conhecer outras cidades brasileiras e pretendem voltar mais vezes. Diante do reencontro com todos que participaram, de alguma forma, dos primeiros anos de vida dos meninos, Elisa relembra o amor que sentiu ao ver os filhos pela primeira vez e a forma como os laços foram se estreitando de forma espontânea. “O sentimento que eu tenho é de que não fui eu que adotei eles, mas o Brasil que me adotou. Quero que os meninos lembrem do país em que nasceram e de todas as pessoas que cuidaram deles”, conclui.

O reencontro foi acompanhado por antigas funcionárias da casa de acolhimento e pela juíza Christiana Caribé

O reencontro foi acompanhado por antigas funcionárias da casa de acolhimento e pela juíza Christiana Caribé

A visita à instituição de acolhimento foi acompanhada pela juíza Christiana Caribé, que estava à frente da 2ª Vara de Bezerros, onde tramitou o processo de adoção à época. A magistrada conta que a maioria das crianças e adolescentes que estão no Cadastro Nacional de Adoção (CNA) faz parte de grandes grupos de irmãos, assim como a maior parte das pessoas que quer adotar opta por apenas um ou, no máximo, dois filhos. “É raro encontrar pessoas que aceitem cinco, seis irmãos. Então, para que eles não permaneçam acolhidos por um longo período e possam ter assegurado o direito constitucional de ter uma vivência familiar, é feita a separação como última hipótese, mas sempre priorizando as famílias que assumam o compromisso de mantê-los em contato, que aceitem manter os vínculos e nós estamos trabalhando há muitos anos nesse sentido”, destaca a magistrada. 

A manutenção do convívio entre irmãos é estabelecida como prática prioritária nos processos de adoção pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE). Nesse sentido, por meio da Coordenadoria da Infância e Juventude (CIJ), foi publicado o Enunciado 45, estabelecendo que “a adoção internacional conjunta de grupos de irmãos em uma mesma família substituta estrangeira deve prevalecer à adoção nacional desmembrada desses irmãos”. Tal princípio foi determinante na adoção dos cinco irmãos pelos três casais italianos, diante da inexistência de pretendentes brasileiros que se comprometessem em manter a convivência entre eles e tendo sido esgotadas as possibilidades da adoção nacional, conforme determina o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

De acordo com a juíza Christiana Caribé, as adoções internacionais acontecem hoje em dia em um número bem menor do que eram realizadas há 10 anos. “A adoção internacional é boa, é importante, mas deve ser vista como algo excepcional, porque nós devemos priorizar que crianças e adolescentes brasileiros permaneçam na sua pátria, pois estão envolvidas questões como raça, cultura, língua e identidade. Por esses fatores, a adoção internacional requer um cuidado ainda maior”, revela.  

Ela acredita que os brasileiros estão aos poucos mudando a forma de pensar a adoção. “O perfil do adotante vem mudando. Antes, a gente considerava a adoção de uma criança de 3 anos como tardia. Hoje isso vem mudando, e estamos sempre trabalhando para que haja uma mudança no perfil dos adotantes e eles se adequem à realidade brasileira”, finaliza.

Lucas, Henrique, Eduardo, João e Luan em um dos encontros entre os irmãos

Lucas, Henrique, Eduardo, João e Luan em um dos encontros entre irmãos na Itália

História – Os irmãos Lucas (13), João (15), Luan (17), Eduardo (19) e Henrique (21) permaneceram em uma instituição de acolhimento no município de Bezerros, por um período de, aproximadamente, dois anos. Concluído o processo de destituição do poder familiar em relação à mãe das crianças e sendo esgotadas as possibilidades de adoção por casais brasileiros, foi iniciada uma busca ativa por adotantes internacionais. Na época, foram localizados dois casais italianos que se comprometeram a manter o laço afetivo entre Lucas e João; Luan e Eduardo. Paralelamente, o pai biológico de Henrique foi localizado e iniciou-se uma tentativa de convívio entre os dois.

Com o cumprimento de todas as etapas necessárias, incluindo o período de estágio de convivência, os quatro meninos estavam prontos para seguir com suas novas famílias para a Itália. Quanto ao mais velho, Henrique, a tentativa de convívio com o pai não foi bem-sucedida e foi necessário fazer a inclusão dele no CNA em um processo independente. Devido a restrições impostas pela lei italiana, não foi possível incluir Henrique no mesmo processo de adoção dos outros garotos. Comovidos por deixar Henrique sozinho no Brasil, as famílias se comprometeram em buscar possíveis pretendentes para o menino e levá-lo para perto dos irmãos. E assim foi feito.

Dois anos depois, Henrique foi adotado por um casal que mora em uma cidade italiana, próxima aos demais. Em janeiro de 2019, Luan e Eduardo foram os primeiros a retornar ao município de Bezerros para reencontrar as origens. Agora, após a recente visita de Lucas e João, todos aguardam ansiosos pelo abraço de Henrique, o último dos meninos a deixar a realidade de uma instituição de acolhimento.

Famílias Solidárias – O programa tem como objetivo possibilitar a ampliação do perfil da criança ou adolescente a ser adotado, focando também em grupos de irmãos. Implantado pela 2ª Vara da Infância e Juventude da Capital, em 2012, o projeto consiste no acompanhamento de famílias que se dispõem a adotar crianças ou adolescentes que pertencem a um grupo de irmãos, quando, após consulta ao CNA, verifica-se a impossibilidade de que todos sejam adotados por uma única família, passando-se à realização do desmembramento do grupo. A ação se pauta no compromisso assumido pelos adotantes de manter o vínculo entre os irmãos que serão adotados por diferentes famílias e atua como diretriz nos processos de adoção em todo o estado.

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Texto: Amanda Machado | Ascom TJPE
Fotos: Guilherme Guimarães | Cacoete Produções | Ascom TJPE