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Estudiosa francesa encerra seminário de violência contra a mulher

Palestra com  Véronique Marie Madeleine Durand foi realizada no último dia do Seminário
 
"A raiz do problema da violência contra a mulher está nos homens." Essa é a principal evidência colhida durante mais de dez anos de trabalho pela professora doutora Véronique Marie Madeleine Durand. A palestra da estudiosa encerrou o Seminário "Violência contra a Mulher: ainda precisamos falar sobre isso", nesta terça-feira (30/8). O evento, que aconteceu no auditório do Fórum Rodolfo Aureliano, na Ilha Joana Bezerra, Recife, foi organizado pela Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), junto com parceiros, em comemoração aos 10 anos da Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006).
 
Segundo Véronique Durand, que possui trabalhos sobre questões de família, gênero, violências contra as mulheres, violências conjugais, prostituição e exclusão social, apenas trabalhando com os homens é possível resolver o problema da violência doméstica. "Trabalhei muitos anos com mulheres em várias culturas até chegar à conclusão de que a raiz do problema está nos homens. Há 10 anos, criamos um serviço na França em ligação com um abrigo de mulheres para tratar daquele homem acusado de agressão. Víamos chegar duas, três mulheres que sofreram a violência pelo mesmo homem. Então, percebemos que se não trabalhássemos com os homens, não conseguiríamos resolver o problema", explicou.
 
No trabalho, a estudiosa conta que existe um momento de conscientização e reflexão do homem sobre a violência cometida. "Desenvolvemos um trabalho individual e em grupo com os agressores, que na França é uma pena alternativa. A conscientização é fundamental porque os homens, muitas vezes, não têm consciência que estão cometendo um crime. Então, falamos sobre a lei e os direitos das mulheres. Na parte de responsabilização do crime, é necessário que assumam que cometeram um crime. Só depois disso, passamos para outras discussões. Promovemos mesas redondas, mas não falamos só sobre violência e lei. Falamos sobre amor, família, respeito, desrespeito. A maioria dos homens que cometem violência entende que as mulheres são objetos e objetos deles. E para piorar a situação, a maioria desses homens sofreu alguma violência ou assistiu alguma violência e isso se tornou natural para eles. Então temos que desconstruir aquele pensamento para passar outra coisa, que é respeito, cidadania. E batemos sempre na mesma tecla, que é a educação, seja aqui, na França, em Bangladesh ou na África", destacou.
 
A mesa que contou com a palestrante Véronique Durand foi coordenada pela juíza da Vara de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de Jaboatão dos Guararapes, Andrea Cartaxo. Durante um ano, a estudiosa acompanhou o trabalho realizado pela unidade comandada pela magistrada. A pesquisa rendeu um capítulo do livro sobre os vários tipos de violência contra a mulher que Véronique deve lançar em outubro. "É com muita felicidade que estou aqui na mesa ao lado de Veronique. Quando cheguei à Vara de Jaboatão tinha muitas ideias e encontrar essa professora e saber do trabalho realizado por ela foi como perceber a possibilidade de concretização dessas ideais. Por isso, estou tão feliz de estar aqui", destacou a magistrada.
 
A abertura do evento coube à coordenadora da Mulher em Situação de Violência, desembargadora Daisy Andrade. A magistrada agradeceu a todos os envolvidos na organização do evento e de todas as atividades realizadas durante o mês de agosto. "Em todo o estado, promovemos uma mobilização importante tanto na prevenção quando na repressão da violência doméstica. E a culminância destas atividades foi o seminário onde trabalhamos com a perspectiva de cada vez mais fortalecer a rede de proteção à mulher e conscientizar cada um da importância de fazer sua parte de forma integrada", afirmou.
 
As equipes psicossociais das Varas de Violência Doméstica contra a Mulher instaladas no Estado também apresentaram os trabalhos desenvolvidos nas unidades. Os projetos mais destacados foram os de acolhimento da vítima de violência. Contam hpje com Varas Especializadas os municípios do Recife, Cabo de Santo Agostinho, de Camaragibe, Caruaru, Igarassu, Jaboatão dos Guararapes, Olinda, Petrolina.
 
Seminário – A Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar do TJPE realiza o evento em parceria com a Escola Judicial e as varas de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. O Ministério Público de Pernambuco (MPPE), a secretarias Municipal e Estadual da Mulher, o Departamento de Polícia da Mulher (DPMul), a Defensoria Pública Especializada na Defesa da Mulher em Situação de Violência (Deppedim) e a Patrulha Maria da Penha também são parceiros da ação. O evento teve início na segunda-feira (29/8).
 
Lei – Criada no dia 7 de agosto de 2006, a Lei Maria da Penha cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do parágrafo 8º do artigo 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil. A Lei dispõe sobre a criação de unidades judiciárias de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar.
 
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Texto: Rebeka Maciel  |  Ascom TJPE
Foto: Agência Rodrigo Moreira