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“Quando cheguei ao Malawi e tive acesso às comunidades de Kasungo, o povo me ensinou o que realmente importa na vida. A minha alma foi inundada com: amor, carinho, gentileza, paz e gratidão." Esses são os sentimentos que o servidor do TJPE, André Caetano Alves Firmo, trouxe em sua bagagem de volta ao Brasil, depois de passar uma semana no Malawi, em um projeto piloto fruto da parceria entre a Unicef e a Universidade de Zurique.
André Caetano atua no TJPE há dez anos como técnico judiciário em Hardware/Software, lotado no Núcleo de Gestão de Projetos e Mudanças da Setic. A experiência na África surgiu de seus estudos sobre o uso da Inteligência Artificial para o reconhecimento de padrões e diagnóstico de doenças, como a esquistossomose.
“A partir das minhas pesquisas no desenvolvimento de uma solução de hardware e software para o diagnóstico automatizado de exames microscópicos, criei uma solução que começou com o diagnóstico da esquistossomose e hoje já é capaz de realizar uma série de análises clínicas. Decorrente desse trabalho, foi fundada a startup Pickcells”, conta.
Ao longo dos últimos dois anos, a startup Pickcells alcançou destaque no cenário local e nacional com a participação em diversos programas globais de aceleração. Devido à visibilidade e aos bons resultados, surgiu o projeto Brasil - Malawi, que teve início através de convite da Unicef no Malawi.
“A proposta foi utilizar a tecnologia de reconhecimento de padrões com inteligência artificial desenvolvida pela Pickcells para avaliar o nível de estresse das crianças das vilas de Kasungo no Malawi. Criamos uma solução de análise de imagens das crianças (facial coding) em conjunto com a análise de temperatura das crianças, solução desenvolvida pela startup recifense Biônica”, compartilha.
“Ter contato com uma realidade de grande pobreza, de imediato causa uma sensação de choque. Não se trata apenas de uma condição de falta de recursos ou de infraestrutura, mas sim de falta de atenção e respeito”
André Caetano é graduado em Licenciatura Plena da Computação (UFRPE), mestre em Engenharia da Computação (UPE) e doutorando em Biotecnologia (Renorbio/UFPE). "A proposta que foi desenvolvida para a missão Malawi, nesta primeira etapa, foi o uso da tecnologia na detecção de padrões de estresse das crianças das vilas, em conjunto com a medida de temperatura das crianças (solução da startup Biônica), criando um biomarcador não invasivo na orientação sobre a necessidade de ação de saúde pública na comunidade. Num segundo momento do trabalho, a tecnologia de diagnóstico já desenvolvida pela Pickcells, deve colaborar para a melhoria das condições de saúde dessa mesma população”, explica.
Mais sobre a comunidade Kasungu
André conta que as ações nas comunidades foram bastante intensas e duravam todo o dia, mas, nos momentos em que a equipe voltava ao hotel, era possível observar que a infraestrutura do distrito de Kasungu era o de uma área rural, sem calçadas e contando apenas com uma via de acesso para os veículos. As casas da vila eram simples, algumas construídas com tijolos, e outras com uma espécie de massapê. E o comércio visto pela equipe era feito em algumas casas, com a grande maioria ocorrendo à beira da estrada através da exposição dos produtos em cima de uma esteira.
“Não vi transporte público. Já o uso de bicicletas como táxis e carros de boi foi bem frequente, além da maioria das pessoas transitarem a pé por longas distâncias. A recomendação local era de não transitar pelas ruas, principalmente à noite, por não haver iluminação pública (tudo escuro) e para não haver encontros com grupos de ‘bandits’, que atuam para realizar saques aos transeuntes”, conta.
Sobre o povo, André Caetano ainda compartilha que as pessoas no geral são muito amistosas e simpáticas e, de cara, amam os brasileiros. Boa parte da população entende o inglês e fala vários dialetos, onde o chichewa é o mais comum. A moeda é o kwacha com uma cotação média de 1 dólar = 730 kwachas. A alimentação é a base de arroz, frango ou peixe e legumes. O uso de curry e pimenta é quase que obrigatório e uma das comidas locais mais consumidas é o 'nsima e local chicken'.
“É difícil falar como essa experiência mudou a minha vida, acredito que passarei anos sentindo os impactos desse contato tão intenso com a realidade nua e crua. De imediato há uma ressignificação de valores e conceitos como a priorização de necessidade e conduta pessoal”
Questionado sobre a cena que mais o emocionou na experiência, André responde que é muito difícil escolher um único momento, pois todos foram muito significativos. “Mas posso tentar destacar dois: o primeiro foi o atendimento de uma menina de 6 anos que estava com um fungo na cabeça e havia perdido o cabelo. Quando nós começamos a assisti-la, esta criança abriu um sorriso, e naquele momento apenas a troca de gentileza era o que se podia notar no ambiente. O segundo momento foi a possibilidade de tomar nos braços a pequena Natasha, que, sem nenhum receio, pôde ser acolhida e trocar um contato descompromissado, sem nenhum tipo de interesse e expectativas, apenas um toque de carinho e amor. Não tem como não se emocionar ao reviver momentos como estes”, conclui.
Quando o grupo de André chegava a uma vila, as mulheres se reuniam para saudá-lo com uma canção de boas-vindas e, quando a equipe saía do lugar, era saudada com uma canção de agradecimento: “Tenho dito que quando saí do Brasil eu era um ‘pobre homem rico’. Hoje, eu posso dizer que retornei ao Brasil como um ‘rico homem rico’. Agradeço imensamente por essa oportunidade de poder me tornar um ser humano melhor. Zikomo Kwambiri, que significa Muito obrigado em chichewa, língua local”.
A equipe
A equipe da ação Brasil - Malawi foi composta por cinco pessoas: Onício Neto, André Caetano, Hatus Viana, Lucas Sampaio e Felipe Farias, cada um representando a Universidade de Zurique, a Pickcells, a Biônica, o Lika-UFPE e o IFPE, respectivamente. O grupo contou, também, com o apoio da equipe da Unicef no Malawi e dos agentes de saúde e líderes comunitários da região.
“As comunidades são carentes de todo tipo de recurso: energia elétrica, água potável, saneamento, segurança, transporte, saúde, educação e liberdade de ir e vir. Mas diante dessa total falta de assistência, o que mais me chamou atenção foi a humildade, simplicidade, carinho e amor desse povo”
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Texto: Redação | Ascom TJPE
Fotos: Arquivo pessoal