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Uma “Epidemia Silenciosa”

Imagine uma condição médica e social com alta mortalidade, estimada em cerca de 12 mil mortes por ano no Brasil e 780 mil no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde. Imagine que a prevenção seja a única alternativa terapêutica e que essa causa de morte receba pouquíssimo investimento no que concerne à prevenção.
Essa condição, talvez o mais trágico desfecho para o sofrimento humano, quando a dor psíquica intolerável se depara com a desesperança, é o suicídio.
 
A condição suicida não permeia apenas as tragédias românticas shakespearianas de Romeu e Julieta ou de Ofélia de Hamlet, tampouco de Werther em Os sofrimentos do Jovem Werther, de Goethe, todos personagens suicidas diante da impossibilidade da vivência amorosa. O ato suicida não se limita às fronteiras da ficção literária; ele extrapola as páginas e vitima autores consagrados como Ernest Hemingway, Virginia Woolf, Raul Pompeia, Florbela Espanca, bem como outros indivíduos desconhecidos. Na verdade, as mortes "silenciosas" de "desconhecidos" constituem a grande maioria dos casos.
 
Para o filósofo e escritor Albert Camus, "todos os homens sadios já pensaram no seu próprio suicídio alguma vez", porém não são as pessoas mentalmente sadias que tem preocupado entidades médicas como a Associação Brasileira de Psiquiatria, mas sim aqueles acometidos por transtornos mentais, cujo risco para o suicídio é aumentado. Em razão disso, o dia 10 de setembro foi estabelecido como Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio e escolhida a cor amarela para lembrar e representar o "Setembro Amarelo", de prevenção ao suicídio.
 
Ao se prevenir um suicídio não se evita apenas uma morte. As maiores sequelas decorrentes de um suicídio ficam para aqueles que permanecem em vida, muitas vezes por várias gerações. Frequentemente filhos de suicidas carregam sentimentos de culpa, ficam sujeitos ao adoecimento mental e muitas vezes também cometem suicídio.
 
No combate às condições que levam ao adoecimento psíquico, as entidades médicas apelam para o apoio da sociedade, no sentido de tentar identificar pessoas que tenham de ideias vagas sobre suicídio até decisões objetivas de autodestruição.
Além dessa busca, é preciso combater atitudes de estigma e de preconceito que desestimulem a chegada dessas pessoas ao tratamento especializado.
 
Daniel Pires Marques
Analista Judiciário - Medico psiquiatra TJPE
Mestre em neuropsiquiatria
 

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