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A de blusa rosa abraçando uma criança é Maria, a educadora, e a última, de camiseta vermelha, é Maria Clara
“Eu gosto muito daqui, mas eu quero uma nova família”, foi dessa maneira que Maria Clara, jovem de 13 anos, expressou seu sentimento de anseio por um novo laço familiar, sem esquecer de prestar gratidão pelo lar que hoje lhe acolhe. A adolescente é uma das 17 meninas que moram no Lar Batista Elizabeth Mein (Lar Bem), e é também uma das jovens atendidas pelo programa de apadrinhamento profissional, oferecido pelo programa Estrela Guia, da 2ª Vara da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE).
Maria Clara recebe atendimento semanal com uma psicóloga, que é sua madrinha profissional. E afirma que sente a influência da terapia no seu desenvolvimento emocional. “Na terapia eu aprendo a desabafar, ela (a terapeuta) é uma pessoa muito boa e assim que eu conheci ela, consegui me soltar mais”, confirma.
O valor do acompanhamento e assistência a jovens que se encontram em um período de ressignificaçãoé algo que Carla*, madrinha e psicoterapeuta de Maria Clara, enfatiza. “Acredito que ser psicólogo é poder oferecer escuta, ajuda, acolhimento e facilitar a busca de novas possibilidades e perspectivas que não eram sequer cogitadas. Principalmente para essas crianças e adolescentes que estão em momento de ressignificação da própria história, de elaboração de dores e descobertas de novas formas de vida. O autoconhecimento é um poder valioso. Não podemos mudar a vida de alguém, mas podemos oferecer apoio nas dores e para que o caminho seja mais consciente com abertura para onovo”.
Carla* conheceu o programa de apadrinhamento através do Instagram da Comissão Estatual Judiciária e Adoção de Pernambuco (Ceja-PE), a página anunciou a busca por um(a) padrinho/madrinha que prestasse acompanhamento psicológico infantil. A profissional ofereceu seus serviços e preencheu o formulário de inscrição para apadrinhamento, que pode ser encontrado na página do Instagram da Comissão, após o cadastro, a equipe entrou em contato para formalizar a participação da psicóloga no programa. “Hoje atendo uma adolescente que vem presencialmente no consultório e tem sido um processo muito bonito e no que depender de mim, ainda temos uma bela trajetória pela frente”, finaliza.
Maria Clara está hoje no 7° ano do ensino fundamental e já afirma “eu quero ser advogada”, é a personalidade carismática e o senso de justiça quea direciona para papéis de liderança. Ela representa o Lar Bem no Fórum Social da Criança e do Adolescente do Recife (Foscar), onde participa de decisões relacionadas aos direitos da criança e do adolescente. Além de fazer parte da banda de sua escola, tocando o eufônio, ela também participou de apresentações da Escola Pernambucana de Circo, junto a duas colegas mais novas que também moram no lar.
O sucesso e crescimento de Maria Clara é reflexo da assistência prestada pelo apadrinhamento, e pelo carinho e acolhimento oferecido pelo Lar Bem, responsável por tornar a experiência das meninas, seja durante a espera pela adoção ou pelamaioridade, a mais branda e agradável possível. Essa essência de zelo configurada na metodologia do lar pode ser representada na figura de Maria, sua funcionária mais antiga, que já completa 17 anos de história no lar.
A educadora carrega uma história de muita proximidade com as meninas, já tendo acolhido 7, após o alcance da maioridade. Maria não prestou nenhum tipo de apadrinhamento, mas cuidou das meninas até que pudessem seguir para o ambiente de trabalho. “Quando eu cheguei aqui elas eram pequenas, e cresceram na instituição. Hoje elas estão trabalhando, tem a casa delas, estão casadas. E eu acredito que o que as meninas precisam não é só material, é direcionamento”, explica.
Ela também enfatiza o poder do apadrinhamento em engrandecer o sentimento de cuidado que as meninas necessitam, por prestar um auxílio direto. “O apadrinhamento é uma coisa muito boa por ser um escape, a partir do momento que chega uma pessoa de fora em quem as meninas possam confiar, isso mostra para elas que alguém se importa”. Usa também como exemplo o caso de Noemy, que recebe um apadrinhamento financeiro que custeia suas aulas de reforço. “Quando uma criança, mesmo que não goste de estudar, vê que alguém está pagando pelo estudo, ela passa a valorizar, pois sabe que está sendo cuidada”, finaliza Maria.
Noemy, uma jovem de 14 anos, está integrada no programa Acelera, para alunos alfabetizados que estão atrasados na escolaridade. No seu caso, o programa e as aulas de reforço, que são custeados pelo apadrinhamento financeiro, irão lhe ajudar a passar para o 8° ano do ensino fundamental. A estudante explica que tem dificuldade com uma matéria específica, mas tem melhorado com a ajuda de sua professora particular. “O reforço me ajudou muito, eu não gosto muito de matemática, prefiro português. Normalmente minha professora passa tarefa de casa, alguma coisa para ler e escrever ou tabuada ”, afirma.
A história das meninas do Lar Bem é mais um exemplo de como o apadrinhamento, seja profissional, financeiro ou afetivo, representa para a criança ou adolescente a possibilidade de construir laços afetivos enquanto recebem apoio para contribuir com seu desenvolvimento pessoal.
*O nome Carla é fictício e foi utilizado para preservar a identidade da fonte
Conheça as modalidades de Apadrinhamento:
O TJPE possui atualmente 13 iniciativas distribuídas em Comarcas como Recife, Cabo de Santo Agostinho, Vitória de Santo Antão, Palmares e Petrolina.
O público-alvo são crianças a partir de dez anos e adolescentes, além de crianças de qualquer idade e adolescentes com deficiência. O apadrinhamento não cria vínculo jurídico entre madrinha ou padrinho e afilhada ou afilhado, podendo ser do tipo afetivo; financeiro ou provedor; financeiro ou provedor institucional; e profissional ou voluntário.
Apadrinhamento afetivo – A(o) madrinha/padrinho afetivo visita a criança ou a(o) adolescente regularmente, podendo passar finais de semana, feriados ou férias escolares com ela(e), proporcionando a vivência social e afetiva por meio da convivência comunitária.
Apadrinhamento financeiro ou provedor – Nesse caso é dado o suporte material ou financeiro, por meio de doação de material que atenda à necessidade da(o) afilhada(o) ou através de contribuição mensal, custeando gastos com escola, reforço escolar, tratamentos na área de saúde, curso profissionalizante, prática de esportes, entre outras atividades.
Também é possível ser madrinha ou padrinho financeira(o) ou provedora(o) institucional, em que se dá uma ajuda em dinheiro única ou periódica para uma instituição acolhedora. Com isso, a entidade pode comprar equipamentos e outros materiais necessários para o acolhimento de crianças e adolescentes.
Apadrinhamento profissional ou voluntário - a pessoa disponibiliza seu trabalho voluntariamente para atender às necessidades de crianças e adolescentes em situação de acolhimento institucional.
Como participar:
Para participar dos Programas de Apadrinhamento do TJPE é necessário possuir mais de 18 anos, comprovar integridade moral e comparecer à Vara da Infância e Juventude de sua cidade para se inscrever no programa. O apadrinhamento financeiro/provedor e profissional/voluntário também pode ser feito por pessoa jurídica. Caso não haja programa próprio de apadrinhamento na Comarca da sua cidade, você pode se candidatar ao apadrinhamento por meio do Programa Ciranda Conviver, oferecido pela CEJA-PE. Nestes casos, é necessário preencher a ficha de inscrição online, disponível no site do TJPE. A equipe técnica da Comissão Estadual Judiciária de Adoção entrará em contato para agendar a entrevista e outros procedimentos necessários à efetivação do apadrinhamento.
Para saber mais sobre os tipos de apadrinhamento, além de endereços e contatos das unidades judiciárias que coordenam os 13 Programas de Apadrinhamento do TJPE acesse: https://portal.tjpe.jus.br/web/infancia-e-juventude/ceja
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Texto: Victória Brito | Ascom TJPE
Foto: Cortesia